quinta-feira, 14 de maio de 2009

Monólogo

Um dia resolvi sair e perguntei pra quem não estava, se poderia. Ele não me respondeu coisa alguma. Não porque tinha saído, mas porque não estava. Aonde foi? Ninguém sabe. Por vezes, nem ele mesmo. Saí. Voltei. E aquele que tinha saído perguntou onde tinha ido. Disse que eu havia avisado. Mas que ele não sabia porque tinha saído, não-saído. E eu perguntei aonde ele foi. E ele saiu, não me respondeu e nem me avisou. Eu não saio mais, não porque não quero, mas sempre que aviso, quem não avisa saiu. Onde será que ele foi? Ninguém sabe... nem ele.

Poema a Descartes

Já não entendo, já não compreendo. Por vezes o tempo parece correr, por outras ele pára e eu tenho que respirar junto com ele: o ar ignorante das palavras. A supresa que o ser humano me provoca é muito desconfortante, tentando nos dar a doçura da vida, o homem nos oferece o amargo contra-testemunho da palavra. A humanidade está fadada a conhecer o seu fim, se o início é vivido pela razão (apenas). E a razão não apaixonada pelo mistério, não desvenda o obscuro, mas enterra os corações pois o que se conhece é somente o que já se sabe. EU SEI! E nada mais.

Primaverar

Força interior que revela aquilo que o universo escondeu. Relembra a vida, retorna a história revive a lida. De fato, não esqueceu que a função do viver é mostrar os perfumes que provém de nossas experiências. Falar de primavera é colorir o jardim da alma com as cores da existência. Não cultivar as pétalas é deixar morrer aos poucos as folhas que se sustentam na árvore. Antecipamos a secura do inverno na veracidade da prima-vera. Que de tão parente, se torna bem presente.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Descamisados

Da dor que há no peito, apenas recordo da roupa que deixei. Nem nova e nem velha, apenas roupa, que a mim não pertencia e muito menos cabia. A minha roupa sempre foram vestes reais, mas as ignorava porque as vestes que deixei eram desconfortáveis. Elas, os trapos remendados, ragaram-se... fiquei nu. Logo ganhei roupas novas, estas s ão apertadas, justas, firmes... São minhas e é com elas que eu vou ao banquete do rei. Todos estão convidados, bastam ir com suas vestes reais.

Coisificação.

Sou um monte de coisas. Sou coisa em um monte. Queria dizer que não tenho como afinar o que sou, se soubesse, teria encontrado a resposta para a felicidade plena. Aquela em que o homem se vê, se conhece e se realiza em si e mais em Deus. Sou um monte de coisas. Em que monte estou?